A história do fotógrafo Augusto Malta

Augusto Malta, de terno escuro, foi um dos principais fotógrafos do Rio de Janeiro.
Augusto Malta, de terno escuro, foi um dos principais fotógrafos do Rio de Janeiro.

Major da Guarda Nacional, Augusto Cesar Malta de Campos, ou melhor, o fotógrafo Malta, como é mais conhecido, é o profissional mais antigo do Rio de Janeiro. Possui ele um arquivo completo dos acontecimentos mais importantes desta cidade, nos últimos 50 anos, com toda a história da sua transformação, todas as realizações da Prefeitura, documentada em mais de 30 mil chapas.

O carinho que tem por essa história e por essas fotografias é quase uma religião para ele. Malta esquece tudo para ir buscar uma fotografia antiga e com ela tirar uma dúvida sobre uma data ou um episódio qualquer da história do Rio de Janeiro.

Funcionário municipal aposentado, contando 93 anos de idade, goza de uma saúde de ferro. “Não acredito em outros mundos, diz ele. Morrer é descuido. Eu pretendo chegar aos 120 anos!”

Augusto Malta reside em Niterói, na praia das Flechas, onde toma diariamente o seu banho de mar, mas vem sempre ao Rio rever os amigos e matar saudades. Traz consigo, invariavelmente, uma volumosa pasta, mais parecendo uma mala portátil, atulhada de fotografias do mais vivo interesse para a história carioca.

Malta não começou a vida como fotógrafo. Em fins de 1888, vindo de Alagoas, onde nasceu na cidade de Paulo Afonso, empregou-se no comércio, como auxiliar de escrita. No ano seguinte, já era guarda-livros da firma Leandro Martins. Nesse ano, presenciou fatos memoráveis: viu quando Deodoro da Fonseca foi ao encontro da tropa, na antiga praça da Aclamação, no dia 15 de novembro, e ouviu quando Sampaio Ferraz deu vivas à República que nascia.

Como republicano ardoroso que era, assinou, no Paço Municipal, a ata da Proclamação, cujo original está guardado no Museu da cidade, e seguiu à frente da massa popular como porta-estandarte do “Centro Republicano Lopes Trovão”, que foi a bandeira dos nossos primeiros dias da República.

Depois, estabeleceu-se por conta própria, com uma casa de molhados, na rua do Ouvidor, canto de Uruguaiana, mas o negócio não foi avante. “Dei com os burros n’água”, diz ele.

Mudando de profissão, passou a vender fazendas por amostras, tornando-se o precursor dos vendedores a prestação. Montado na sua bicicleta, visitava diariamente a freguesia, que era das mais seletas. A Sra. Campos Sales, a Viscondessa de Guai (Sra. Joaquim Elísio Pereira Marinho) e outras damas da alta sociedade, embora não comprando a prestação, davam preferência ao amável vendedor que lhes levava a mercadoria em casa.

Foi nessa época que um amigo despertou em Augusto Malta a idéia de tornar-se fotógrafo profissional, quando lhe propôs a troca de sua bicicleta por uma máquina fotográfica. O negócio foi aceito, e nessa sua nova função tomou contacto com o prefeito Francisco Pereira Passos que, apreciando a sua atividade e gostando dos seus trabalhos, criou para ele, em julho de 1903, o lugar de fotógrafo municipal. Daí o acervo extraordinário de fotografias que possui sobre a evolução da cidade, a qual acompanhou dia a dia, com alma de verdadeiro artista.

Na fotografia, por ele próprio tirada em 1913, vemo-lo de terno escuro com os irmão Bernardelli, Rodolfo (escultor) e Henrique (pintor).

(Crônica de C. J. Dunlop, do livro Rio Antigo, vol. II, 1956.)

*** Nota dos editores: Malta, nascido em 1864, faleceu no ano seguinte a esta crônica, no Hospital da Ordem Terceira da Penitência, no Rio de Janeiro, em 30 de junho de 1957.