(Por: Allen Morrison)
"Charles Julius Dunlop mudou minha vida. Sou um entusiasta de bondes e trens, e como outros com tais interesses, ficava frustrado pela falta de informação sobre as linhas na América do Sul. Em uma visita ao Rio de Janeiro, em 1977, fui à Biblioteca Nacional e encontrei o livro do Charles, "Os meios de transporte do Rio Antigo". Fiquei boquiaberto com o seu conteúdo e intrigado com o fato de que um homem com tal nome escrevesse em português. Queria conhecê-lo – especialmente porque poderia haver uma chance de comunicação em inglês.
Retornei a Nova York, e escrevi à sua editora. Mas não recebi qualquer resposta. Em minha próxima viagem ao Rio, no ano seguinte, procurei na lista telefônica, encontrando seu endereço na Rua Maria Angélica. Naquela época, com meu português ainda deficiente, pedi ajuda à recepção do hotel, que fez o contato telefônico. A empregada que atendeu revelou que a casa agora estava ocupada por seu filho, e que Charles morava próximo a Itaipava, em Pedro do Rio, fornecendo seu novo telefone. Liguei para lá, e como era dia de forte tempestade a ligação falhava. Mesmo assim Charles pediu que escrevesse para o endereço na Rua Maria Angélica quando regressasse a Nova York. Foi o que fiz, dando início a oito anos de uma amizade e um intercâmbio extraordinário, de quase 300 cartas – compiladas mais tarde por Charles em volumes indexados.
Sempre escrevia em inglês e ele respondia em português – o que me fez, altamente motivado, ler nesse idioma rapidamente. Charles não só resolveu todos os mistérios dos bondes do Rio de Janeiro, mas também de outras cidades, o que incentivava a minha pesquisa. Na década seguinte fiz dez viagens ao Brasil, onde estive em cerca de 50 cidades, todas com algum histórico de bondes, de Porto Alegre a Manaus. Visitei Charles diversas vezes, em seu sítio em Pedro do Rio, e mais tarde em sua nova casa, em Correias, próximo a Petrópolis – quando o vi pela última vez, pouco antes de ele nos deixar em 1987. Em 1989 publiquei o livro "The tramways of Brazil", dedicado a sua memória, e que se esgotou em poucos meses.
Editei outro livro no Chile em 1992, publiquei um álbum de fotos com todos os bondes da América Latina em 1996, e no momento tenho 1.092 páginas sobre o tema na internet. Não creio que qualquer uma dessas coisas teria acontecido se não tivesse encontrado Charles Dunlop 30 anos atrás. Avaliando os e-mails que recebo quase diariamente, acredito que tenho influenciado outros quase tanto como Charles Dunlop me influenciou. Obrigado, Charles."