A primeira “carreira” ou “aposta” de barcos no Rio de Janeiro parece ter sido a de que dá sucinta notícia o “Jornal do Comércio” de 20 de agosto de 1846. Realizou-se ao longo da praia de Santa Luzia, entre duas canoas – a Lambe-Água e a Cabocla.
Passados três anos, na manhã de 25 de julho de 1849, teve lugar, na enseada de Botafogo, outra disputa entre quatro escaleres – Atalanta, Esmeralda, Mistério e Pérola, organizada por João Manoel de Azêvedo Côrte Real. Os barcos se distinguiam por cores: o primeiro era pintado de branco e escarlate; o segundo, de branco e verde; o terceiro, de branco e azul, e o quarto, todo branco. Houve cinco páreos, sempre com os mesmos escaleres. As apostas foram animadas, havendo algumas de quantias avultadas.
Firmando-se entre nós o gosto pela canoagem, Côrte Real e outros aficionados do remo fundaram a Sociedade Recreio Marítimo, que realizou a primeira regata “oficial” do Rio de Janeiro, na tarde de sábado de 1º de novembro de 1851.
“A escolha do sábado", explicou a diretoria da Sociedade", foi determinada porque a maior parte dos sócios e amadores que tomarão parte da nos diferentes páreos pertence à classe do comércio e muito dentre eles, por princípios religiosos, não podem, nos domingos, entrar em trabalhos dessa ordem”.
O local escolhido foi a enseada de Botafogo, entre a fortaleza da Praia Vermelha e a antiga ponte das barcas de Botafogo, numa distância aproximada de mil braças (cerca de 1.830 m).
Às 3 horas da tarde, a praia já estava cheia de espectadores e o mar coalhado de pequenas embarcações de todas as formas e feitios. Aguardava-se a chegada da Família Imperial, que prometera honrar a competição com sua augusta presença no palacete do Visconde de Abrantes.
Pouco antes das 4 horas, seis bandas de música, embarcadas nos vapores anunciaram a chegada de Suas Majestades Imperiais, tocando a um tempo o Hino Nacional.
Às 4:25h o iate Narceja, fundeado nas proximidades da Praia Vermelha, deu o tiro de partida pata o primeiro páreo, composto de escaleres da Marinha de Guerra e da Alfândega. Venceu a canoa da escuna Argos, da Marinha. O segundo foi também disputado entre a maruja da Alfândega e da Marinha, vencendo a canoa do Capitão do Pôrto. No terceiro e quarto páreos, entre escaleres da marinha mercante, sagraram-se vencedoras as guarnições da galera inglêsa Alice e do vapor austríaco Elodel.
O quinto páreo estava assim organizado: escaleres Ninfa e Rosa, com remadores brasileiros; Pérola, com alemães; Estrêla do Sul, com americanos; Atalanta, com inglêses e portuguêses, e Esmeralda, com inglêses. Venceu Ninfa, seguido de perto pelo Pérola.
O sexto páreo foi disputado entre o escaler do vapor inglês Plumper e o do Ministro da Marinha, e o sétimo entre o escaler do vapor Cormorant e o do inspetor do Arsenal.
Devia haver um oitavo e último páreo, o dos vencedores, mas estes escusaram-se, cedendo a palma a Ninfa, que foi proclamado “Vencedor dos Vencedores”.
Às 6 horas da tarde, passaram os remadores em cortejo pela escuna Argos, onde estavam os juízes da regata, diretores da Sociedade Recreio Marítimo, muitas autoridades da Marinha com suas famílias e convidados, sendo todos vivamente aplaudidos. De pé nas bancadas de seus escaleres, com os gorros na mão e os remos ao alto, corresponderam, agradecendo as aclamações.
Seguiu-se a distribuição dos prêmios aos vencedores e, finda a solenidade, teve início um grande sarau dançante a bordo do barco "Antelope", transformado em casa de baile.
A gravura mostra um aspecto dessa primeira regata da Sociedade Recreio Marítimo.
(Originalmente publicado no livro “Rio Antigo”, vol. III, de C. J. Dunlop, 1960.)