Os bastidores da proclamação da República no Brasil

Caricatura da época, Major Solon
Caricatura do major Solon à época da proclamação da República, em 15 de novembro de 1889.

 

Dentre os que tomaram parte no movimento revolucionário de 15 de novembro de 1889, que culminou na proclamação da República, o major Frederico Solon Sampaio foi, sem dúvida, um dos elementos de maior destaque, tendo desempenhado papel decisivo na organização e desfecho final do golpe.

Na ante-véspera, ele, Benjamim Constant e Quintino Bocaiúva reuniram-se no escritório deste último, na rua do Carmo, a fim de confabular sobre o movimento projetado e marcar o dia de sua eclosão.

Benjamin era de opinião que nada, em definitivo, se poderia resolver, pois no dia seguinte ainda devia conferenciar com alguns amigos do Club Naval. Só depois disso é que poderiam fixar a data.

Quintino, vivamente apoiado por Solon, achava que estaria abortada a revolução, se ela não rebentasse até o dia 15.

“Com a impetuosidade de um fanático" – escreveu mais tarde Quintino Bocaiúva – "o major Solon, tomando uma fôlha de papel, propôs que aí exerássemos a nossa firme resolução de proclamar a República no dia 15 de novembro, jurando que essa resolução era inabalável e que nos exporíamos a todos os riscos que sobreviessem. A isso opus-me eu, ponderando que os três homens, que ali estávamos, eram sinceros e leais, e que nenhum de nós precisaria oferecer ou pedir garantia que assegurasse nossa fidelidade à causa de revolução e da República”.

Retirando-se Benjamim, continuaram os dois a conferenciar, combinando um encontro no dia seguinte, à noite, no largo de São Francisco de Paula.

Nessa noite, no entanto, espalhou-se pela cidade o boato de que Benjamim Constant e também o general Deodoro da Fonseca haviam sido presos, por ordem do Govêrno.

Fôra o próprio major Solon quem emaranhara essa série de supostos acontecimentos, propalando-os, como uma bomba, nas principais ruas do centro: ”O Govêrno acaba de resolver, não só o embarque de várias unidades do nosso Exército, com sede no Rio de Janeiro, para diversos pontos do Brasil, como a prisão do general Deodoro e do dr. Benjamim Constant”.

A notícia correu célere, de bôca em bôca, indo bater, como desejava Solon, aos quartéis.

Como Quintino sabia onde, àquela hora, devia achar-se Benjamim, mandou um emissário ao Club Naval, pedindo notícias suas. Pelo mesmo portador, Benjamim mandou dizer que tudo ia bem, estando o movimento marcado para domingo, dia 17.

“Fui imediatamente procurar o major Solon" – é ainda Quintino que conta – "e expus-lhe os meus receios, ficando, afinal, deliberado entre nós que, apesar do recado do dr. Benjamin Constant e da prostração em que se achava, por enfêrmo, o general Deodoro, o movimento se efetuaria na sexta-feira. Ao meu ilustre amigo, o dr. Benjamim Constant, mandei então dizer que era tarde, que a revolução teria lugar no dia seguinte, fosse qual fosse o resultado”.

Foi nesse memorável encontro com Quintino, que o major proferiu a célebre frase: “Amanhã ou nunca!”

E, assim, chegou o 15 de novembro.

Solon Ribeiro, que se vê numa caricatura da época, faleceu nesta capital, a 10 de janeiro de 1900, no pôsto de general de brigada.

 

(Do livro “Rio Antigo”, vol II, de C.J. Dunlop, 1956.)