Alfredinho, Bip Bip e o pitaco do Galeão Cumbica

Claudia Ferreira Bip 1

Salve, Alfredo,

Sei lá se você conseguiu acompanhar tudo daí de cima (tava meio nublado), mas a opinião foi geral: seu funeral foi do caralho!

Veio deputado, gari, senador federal, crianças, morador de rua, cineastas, baleiros e babás. Nada mal para um humilde corretor de fundos públicos nascido em Bangu, hein? O que mais tinha, claro, eram seus favoritos: músicos e malucos. Às pencas e fantasiados. Até os vizinhos malas apareceram.

O Rubem Braga um dia escreveu que em todo bom velório deveria haver olhos vermelhos e risos sem remorsos, e foi o que se viu no Bip Bip. Teve choro, claro, mas também muito samba, risos e boas histórias.

Seu esquife ficou no centro do bar, deitadão sobre a mesa, e a fila dos seus amigos ia até o meio da rua. Houve um incauto, parece que mineiro, que ficou desconfiadíssimo: aquela farra só podia ser bloco, e o caixão, fantasia de Segunda-Feira de Carnaval. Fora de sacanagem, ele quase apertou seu nariz para acreditar, o coitado. Você ia rir pacas, se pudesse.

Na roda, armada do lado de fora, alguém improvisou em cima do clássico: “Sei que vou morrer, não tenho medo / Levarei saudades do Alfredo…”. De lá, ao som de surdo, cuíca e pandeiro, saiu geral para o sepultamento no São João Batista, indescritível – ainda bem que filmaram. Depois dali, metade da turma ainda foi para a Avenida ver a sua Mangueira campeã, com o samba lindo composto por seus meninos. Que dia, hein!

Alfredo, você estava certo, mais uma vez: no belo livrinho “Bip Bip, um bar a serviço de alegria”, na página 12, você previa: “Amigos dizem que o Bip Bip sou eu, com o que não concordo. Outro dia, um frequentador me pediu, até comovido, que eu fosse ‘imorrível’”, escreveu você, já agradecendo a Matias Bidart, Zé Paulo Fernandes, Ari Miranda e outros por manterem o bar aberto nas suas eventuais ausências, antes de completar: “O Bip somos todos nós, e vai continuar assim para sempre”. Sábias palavras!

O bar segue cada vez mais lindo – teve aniversário do Matias outro dia lá – e tudo do jeitinho que você gostava. De novidade, apenas uma: o esporro democrático. Na falta da sua voz de trovão para clamar por silêncio, agora todo mundo manda todo mundo calar a boca. Está lindo.

Claudia Ferreira fotos Bip 3

Dureza, dureza mesmo, é chegar ao bar e dar de cara com a cadeirinha de plástico, ali na ponta direita, sem você. Na quinta-feira, o Emiliano não aguentou.

Mas descobriu-se um senhor antídoto para a saudade, à venda ali mesmo no bar, por parcos 35 reais: o livro sobre o Bip já citado. No miolo da obra, há uma sensacional entrevista com você, feita pelos autores Chiquinho Genu, Luís Pimentel e Marceu Vieira. São 55 páginas de papo, e é fácil ouvir sua voz.

E o livro é ainda mais valioso para quem não conheceu você. Lá está o seu primeiro dia no bar, como freguês tarado pela batida de maracujá, quando você saiu para comprar Cibalena na farmácia e acabou atraído por fogos de artifício (era a inauguração do Bip!). Ou seus tempos como comerciante na AJ Melo Assessoria de Comércio Exterior, em 1985, quando corruptos de todos os lados te aporrinhavam, até que você desistiu. Suas desventuras na Rússia! E, claro, suas tiradas. Exemplo: “Ser dono de bar é uma merda. Não se pode ir a show, nem a cinema, muito menos ao teatro – e só se consegue trepar de manhã!”

Alfredo, é paixão e é jura: por toda sua meninada, pela memória de sua Tia Freirinha, pelo funcionário do Bip que roubou você e depois virou evangélico, pelo caloteiro que bebeu 4 mil dólares no bar e jamais pagou, pelo seu tio Cônego Vasconcelos – aquele que um dia desceu do altar e expulsou um grupo de cadetes aos tapas por fazerem zorra na igreja, em Bangu –, pelo Roni Cócegas, sim, o Cocada, o próprio, o Galeão Cumbica, que um dia passou por você e deu a dica de que o Bip estava à venda, pela moça bela que pousou um dos seios no seu ombro para aliviar a conta, pelos chatos que você detectava de longe, como ninguém: o bar seguirá. Afinal, o bar somos todos nós, e vai continuar assim para sempre – com o mesmo espírito, sem concessões e modernices.

No máximo, no máximo, com o retorno das esplêndidas batidas de maracujá.

Que venham mais 50 anos! Fique em paz.

Beijos
do Marcelo Dunlop

Fotos: Claudia Ferreira/ Bip Bip (2019)
Fotos: Claudia Ferreira/ Bip Bip (2019)

Alfredinho e a dedicatória

Alfredinho, do bar Bip-Bip. Foto: Dudu Sarmento.
Alfredinho, do bar Bip-Bip. Foto: Dudu Sarmento.

 

 

Alfredinho Jacinto Melo sabia que ia morrer, não sabia o dia.

Coerente, fez questão de ignorar os versos de Ataulfo, que bem cantava: “Eu quero morrer numa batucada de bamba / Na cadência bonita do samba”. Alfredinho, jamais. Nunquinha que ele iria morrer no meio da batucada, provocando algazarra, correria entre os músicos, barulheira na vizinhança e, pior de tudo, o fim do samba.

Alfredinho virou melodia na tarde do último sábado, na poltrona de sua casa em Copacabana, cercado pelos livros que gostava.

O fotógrafo Fabio Rossi foi quem nos apresentou, em 2002. “Suspeito que ele gostou de você…”, sorria Rossi. Perguntei por quê. “Olha, você chegou mamadaço, ficou parado na frente da geladeira, agarrou ele e ainda mandou: ‘Afonsinho, seu bar é o melhor’. E ele em vez de te comer no esporro, ficou rindo”. Mas aprendi rápido, tanto o nome certo como as sábias lições do Alfredinho. “Botequim é para sair bêbado, e não para chegar bêbado”, era uma de suas favoritas.

Foi um dos caras mais livres que já conheci, pois viveu a vida que escolheu, como bem definiu uma amiga. Ensinou a gente, em 75 anos de vida e quase 40 de bar, a odiar a miséria, e não os miseráveis. E, claro, a amar a nossa música.

Eu curtia ficar até a hora do bar fechar, quando esperava colher histórias e confissões entre as saideiras. Só que a bebedeira era tanta que eu sempre esquecia tudo no dia seguinte.

“Meu orgulho é que toda a nata do samba passou por aqui”, me disse ele um dia. “Dos que eu gosto, só faltou aparecer mesmo o Martinho e o Zeca Pagodinho”.

Num desses dias, 25 de novembro de 2016, coisa de 3h da matina, apareceram duas jovens argentinas querendo conhecê-lo. Ficaram conversando sobre os rumos da América Latina e coisas e tais, e acabaram comprando um livro para que ele autografasse. Alfredinho se esmerou na dedicatória, carinhoso. Elas, emocionadas, pediram que ele lesse as palavras para elas. Alfredo começou, e logo parou. Depois me disse: “Porra, nem eu entendi a merda da minha letra!”. E eu quase rolando de rir na calçada de Copa.

O pior escritor de dedicatórias do país será velado nesta segunda-feira no bar Bip-Bip, até as 15h. O enterro será no São João Batista, às 16h.

Obrigado por tudo, Alfredo.

Histórias de avó

Vo Lulu e familia

Vovó via vôlei, ao vivo ou videoteipe, e vibrava.

Viveu uma vida boa e longa, a ponto de ter visto 27 presidentes da República diferentes, fora o Temer. Partiu de Venceslau Brás, Delfim Moreira, Epitácio Pessoa, pegou depois José Linhares, Presidente Vargas e por aí foi. Bela estrada, hein dona Lulu?

Professora de matemática emérita e laureadíssima, colecionou números, alguns superlativos: em 53 anos de casamento, somou três filhas e um filho, multiplicou por sete netos, elevados a três bisnetos. O resultado é um amor difícil de calcular. Até para ela.

Pequenininha lá em Barbacena, Lulu conheceu algumas figuras. Foi, por exemplo, coleguinha de primário do cracaço de bola Heleno de Freitas – a quem chamava de Heleninho –, que virou filme com Rodrigo Santoro. Filme que ela fez questão de ir ver no cinema, cinéfila que era.

Décadas antes de inventarem a Netflix, era em frente à vovó que eu jantava. E tome história para me distrair das colheradas de espinafre – algo totalmente desnecessário, pois eu comia até pedra e adorava espinafre. Mas os roteiros eram incríveis, muito melhores que a programação de hoje.

O astro das histórias era o valente marujo Simbá, que na minha imaginação tinha a cara do Popeye. Simbá (ou Simbad) navegava lá de Bagdá (ou Bagdad) para encontrar ilhas cheias de tesouros, voar no dorso de condores imensos e, por incrível que pareça, comer exatamente o que tinha no meu prato para ficar fortão.

Devia ser uma delícia aprender matemática com dona Lulu.

Nos últimos meses, os “netinhos” iam levar um carinho e um quitute num cenário de história da carochinha adaptado para Copacabana. A avó deitada, cobertor nas pernas, o quarto silencioso, poucas palavras. Faltava só o lobo. Na última sexta-feira, o lobo veio e dona Lulu descansou.

Ficam as ótimas lembranças, o bom humor e as histórias saborosas. Lulu não ganhou fama como o célebre avô do amigo Renato Renart, inventor genial do requeijão, mas também criou uma guloseima famosa na família: o sanduíche de camadas, com recheios bem equilibrados de pasta de sardinha, maionese, creme de cheiro verde, azeitona e geleia. Se você já comeu em algum lugar e gostou, favor nos mandar o dindin dos royalties.

A vó faria 99 anos neste sábado, 7 de outubro. A missa de sétimo dia ali perto do Arpoador foi num clima de comemoração, portanto. Animadas pela menina de fazenda que era lembrada, as galinhas e patos do galinheiro logo atrás da igreja não pararam de cacarejar e grasnar. “Não foi missa de sétimo dia”, me abraçou o Fabio, amigo de 90 anos. “Foi missa do Galo!”. Deus te abençoe, Lulu.

Morreu o Beethoven dos botequins

Zé Luiz Peixoto (primeiro à direita) e os 14 no Alvaro's, no Leblon.
Zé Luiz (de azul, à direita) e o Grupo dos 14 no Alvaro's. Texto e foto: Marcelo Dunlop

 

Sem vela e com algum choro, morreu na tarde de sábado, 23 de setembro de 2017, um dos mais geniais boêmios que o Brasil conheceu. Era o Beethoven dos bares. Chamava doutor José Luiz Peixoto e me chamava de “viadinho” ou outro apelido carinhoso.

Viu tudo, conheceu meio mundo, bebeu todas, em dose dupla e com gelo. Quando mais novo, organizou espetáculos no Maracanã, beijou a mão do Papa, fez o diabo. Se era bom pianista eu não sei, duvido muito. O elo com o grande Beethoven era a vasta cabeleira grisalha, que ele tentava eternamente domar, sem sucesso, enquanto orquestrava, com fina harmonia, qualquer conversa no botequim. Gênio!

Na última sexta-feira, tive o prazer de rachar com ele um picadinho no Alvaro’s, durante reunião etílica do seu estimado “Grupo dos 14”. Ao adentrar seu velho amigo Sérgio Cabral, ele respeitosamente o saudou: “Tem fodido muito, Sérgio?”. O boa-praça Cabral engatou logo uma história clássica: “Como dizia a sábia Leila Diniz, esse negócio de pau duro é do Méier para lá”.

E assim o papo fluiu, como era de costume com Zé Luiz à mesa. Seus dedos tamborilavam de um lado a outro, de lá para cá e cá para lá, contando uma para o amigo da cabeceira daqui, e, numa virada inesperada, dando uma sacaneada no colega do canto acolá. Como trilha sonora constante de seu recital, o tilintar do gelo no uísque e o coro dos risos, muitos risos.

Presidente de honra do finado bloco carnavalesco Vaca Totó (amada amante do Boitatá), doutor José Luiz Peixoto foi cremado com uma camisa da agremiação com os dizeres: “Fui”.

No concorridíssimo velório, com a presença de sambistas, advogados, ex-atletas olímpicos e, claro, donos de bares, lá pelas tantas sua companheira, Lígia, a musa da música de Tom e Chico, abriu espaço para relembrarem histórias dele, generoso tabelião que resolvia qualquer pendenga de herança e espólio para quem precisasse. Era de dia um mestre das entrelinhas, e à noite um boêmio desalinhado.

Duas dele:

Em Salvador, chegou doido por um acarajé. Foram até uma baiana reconhecida pelo seu tempero, que quis saber o gosto do freguês para pimenta: “Quente ou frio, meu rei?”. Ele, olhos nos olhos da quituteira: “Meu amor, apimenta como se o cu fosse o seu.” E tome gargalhada.

A outra foi no Rio. Recém-separado, José Luiz Peixoto foi convidado por um amigo do peito para partirem para um show do Johnny Alf, com alguns colegas do outro. Topou na hora. Sem intimidade, ficou quieto, chupetilhando seu uísque, ouvindo o papo. “Ah, acabamos de voltar de Praga, vimos isso, fizemos aquilo etc”. Uma senhora então disse: “Em Praga é obrigatório comer cachorro-quente”. Ele não resistiu: “Foi até Praga comer cachorro-quente? Vai tomar no seu cu”.

Era o “vai tomar no seu cu” mais doce do Rio de Janeiro.

Saímos do Caju com a honrosa missão de só ir para casa depois de 76 chopes, um para cada ano de vida do guru Zé Luiz. Se falhamos foi porque naquela mesa está faltando ele.

O Velho e o Mercado

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O aposentado catou o jornal ainda bocejando, e abriu direto no caderno esportivo, que o resto nunca prestava mesmo. Ajeitou os óculos e teve de rir ao espiar a manchete: “Crise na Gávea…”. Acho que já li isso antes, pensou. Os espertos olhos azuis reluziram ao confirmar a data no topo da página: 10 de setembro de 2047. Era seu aniversário.

Ao chegar na cozinha, foi recebido com carinho pela mulher:

– Oi amor, a família toda já confirmou presença no almoço festivo – disse a esposa, depois de um beijo. – Como o tempo voa! Sete ponto cinco, turbinado! Tá um garoto.

De brincadeira ele pediu detalhes do cardápio do dia, pois já sabia a resposta. Hummm… Franguinho com quiabo! Seu prato predileto, há décadas, aliás. Faltavam apenas alguns ingredientes, se ele pudesse buscar no mercadão…

Topou de bom grado. Era afinal um sujeito de hábitos antigos: ainda lia jornal de papel, fazia as compras pessoalmente, gostava de um carteado com os amigos na mesma mesa, e não em jogos virtuais. Ah, os bons e velhos tempos…

– Aproveita e passa no play para chamar seu neto – lembrou a patroa. – Ele está batendo bola sozinho na parede, enquanto os vizinhos ficam jogando futebol holográfico e caçoando dele.

Arrumou-se e desceu e, após umas tabelinhas com o neto, tocaram para o supermercado. Apesar da banalidade do ato de comprar mantimentos, ele sempre se sentia diferente ao entrar ali. Bastava passar pela antiga estátua na porta para suspirar um sopro discreto de nostalgia.

Enquanto bongavam limões e maracujás para a caipirinha, o neto notou o olhar perdido do aniversariante, a quem nutria a mais profunda admiração. Vovô viera jovem da Europa, depois de perder amigos e testemunhar atrocidades num país em guerra civil. Chegara ao Brasil com 25 anos, e depois de suar a camisa, ganhou fama e colheu glórias no Rio de Janeiro. Pelo que o netinho escutara, antes de ser um avô pacato e babão era dono de uma personalidade turrona.

Perto das verduras orgânicas, a criança resolveu quebrar o silêncio; puxando-o pela mão enrugada, perguntou então:

– Vovô… Foi aqui, não foi?

Com o português carregado de sotaque, ele tentou fazer graça, mexendo na cabeleira do netinho:

– Ih… Mas já faz tanto tempo… Acho que só você lembra, Pingo.

O neto insistiu. Tinha visto a cena várias vezes na internet, num site velho chamado YouTube. Marcado pela cerradíssima curiosidade infantil, não restou ao velho gringo outra opção que não baixar a guarda:

– Sim, aconteceu aqui. Dá para imaginar?

Seguiram caminhando entre as prateleiras, rodeados de panelas, queijos e metros de linguiça. Ao passarem diante de uma senhora que arrastava um carrinho cheio de latas, bifes e verduras, o velho parou, o olhar perdido no tempo.

– Foi aqui, mais exatamente. Perto da caixa 217. Daqui eu marquei, com a camisa rubro-negra, um dos gols mais comemorados do Maracanã.

– Mas e a trave? Era aonde? – quis saber o neto.

O velho apontou o dedo indicador e sorriu:

– Se eu não estou lelé, ficava uns 25 metros para lá, um pouco mais. Vamos contar?

A criança foi andando abrindo os passos mais largos que conseguia, contando até 25. O gol ficava perto da prateleira de vinhos – portugueses. O aposentado então passou a recordar o lance, ocorrido há quase 50 anos.

– Quando seu avô jogava no Flamengo, vinham umas 60 mil pessoas nos ver jogar. Era o público daquele dia. Tarde de final de campeonato, e a cidade parada. O artilheiro daquele time era um baixinho chamado Edílson. Velho ranheta, nos falamos até hoje. Na época, éramos brigados. Mas isso foi bem antes de botarem o estádio abaixo, bem antes de construírem este gigantesco Walmart Maracanã.

– E por que acabaram com o estádio, vovô? Devia ser bonito…

– Ah, Pingo… Os habitantes da Terra gostam de duas coisas, de futebol e futrica, não necessariamente nesta ordem. Encontrar soluções, que é bom… Primeiro acabaram com sua magia. Depois, o abandonaram para apodrecer. Aí bastou passar os tratores no entulho que restou. Na época, o Rio tinha um governador, era chamado por um apelido que agora me escapa, e…

– Betão! Olha quem é o coroa, Betão!

Passavam dois faxineiros a bordo de um carro de limpeza motorizado, e um deles reconheceu o velho meio-campo.

– Garoto, seu avô era um cérebro! E que pontaria, acertava onde a coruja dorme!

Sem entender a expressão dos tempos do onça (e da coruja), o neto voltou o olhar para o velho, que prosseguiu:

– O relógio marcava: 42 minutos e 50. Finalzinho do jogo. A gente vencia a partida mas precisava de um gol para levar a taça. Ali atrás, perto dos pneus, a torcida adversária já cantava “É campeão”. Do nosso lado, alguns poucos torcedores de pouca fé já andavam para a saída, amuados.

– E você não estava nervoso?

– De que isso adiantaria? Sabia que era a última chance, e tratei de me acalmar. Só olhava a bola, ali paradinha. Pus as mãos na cintura, e pensei em como ia chutar.

A esta altura, o faxineiro começara a filmar e transmitir a cena ao vivo pelo celular, atraindo alguns torcedores mais empolgados ao supermercado.

– Dali, pela distância, o normal seria apelar para a força, e tentar um petardo. Eu optei por bater com o lado de dentro do pé direito, para a bola ganhar efeito e passar por cima dos últimos dois homens da barreira. Mais ou menos ali nos vidros de maionese.

Guardando os óculos, o aposentado se empolgou e começou a repetir o lance, cuidando para não esbarrar nas pilhas e lâminas de barbear.

– A arquibancada lotada fazia um gesto engraçado com as mãos, como se emanasse energia para mim, ou melhor, para a bola, uma coisa maluca que dava certo. Olhei mais uma vez a bola, olhei o gol…

Compenetrado, as mãos na cintura, o avô percorreu três passos ágeis e curtos e, ante um silêncio respeitoso de todos em volta, simulou a cobrança. A mesma cobrança de 2001.

– Corri, bati e “plum”!

O velho Dejan ficou observando a bola imaginária subir uns cinco metros, tomar um efeito mágico e cair. No ângulo. Apesar da idade avançada, ergueu os braços e começou a correr enlouquecido, com o neto saltitando a seu lado. Fregueses, caixas, funcionários e uma penca de torcedores recém-chegados desataram a vibrar, quase arrebentando as mãos de tanto aplaudir. Sim, Petkovic tinha feito de novo o gol do tri, somente para que seu neto pudesse vê-lo.

– Que gol, vovô! E bem onde a caramuja dorme!

Perto de onde o neto e avô se abraçavam, os dois faxinas voltavam ao trabalho:

– Que choro nada, Betão, sai para lá, eu tô cheio de coriza, cidade poluída do cacete… Mas me admira você, diz que é louco por futebol, aí pouco ligando… Uma cena tão bonita, a criança com o avô… Não tem coração não, Betão?

Com cara de paisagem enquanto ajeitava uma lata de leite condensado, Betão deu de ombros:

– Gostar de futebol eu gosto. Mas sou macaco velho nesse mercado, enquanto tu é cabacinho. Quase todo mês eu vejo essa cena, igualzinha: mês passado mesmo apareceu o Renato Gaúcho, outro dia foi aquele político baixinho, ano passado veio o Zico…


(Para Osvaldo Soriano e Eduardo Galeano, que contaram história semelhante, só que verídica e bem escrita, no livro “Futebol ao sol e à sombra.)

A Ilha da Nostalgia

Ilha do Urubu no Rio Foto de Rod Nunes
Ilha do Urubu, em junho de 2017. Foto: Rod Pereira Nunes.

 

João Máximo foi quem melhor definiu o triste destino do maior estádio do mundo (1950–2017): “O Maracanã já foi do povo, tentou ser da elite e hoje é de ninguém”, resumiu o mestre, em crônica publicada outro dia na revista “Socialismo e Liberdade”, editada pelo rubro-negro Cid Benjamin.

Mas e a Ilha do Urubu, de quem seria? Bem, de todos menos alguns, como toda casa rubro-negra – ainda que por ora esteja abrigando alguns e não todos.

A pergunta que mais escutei essa semana, tirando “Vai me pagar não?”, foi: “E o novo estádio na Ilha, que tal?”. Pergunta assim tão sumária tem que ter a necessária resposta, e respondo então: é um campo perfeito para os nostálgicos, um lugar para voltar no tempo.

Há quantos anos você não via o Flamengo ali tão perto, as feições dos craques tão humanas, os gritos entre os jogadores tão audíveis, sem falar no cangote do bandeirinha tão próximo de um elogio? A Ilha do Urubu, antigo “Estádio dos Ventos Uivantes”, é um convite tamanho aos sentidos que você quase deixa escapar o principal: o olfato.

Ah, o cheiro da grama! Os antigos cronistas falavam disso como uma dádiva dos jogos pré-Maracanã, uma sensação extinta para sempre. Mas ele existe na Ilha. Desci os degraus do setor norte, disfarcei, fechei os olhos e puxei o ar. E eu então senti, sim, eu senti, o aroma doce da relva em meio à noite fria da Ilha do Governador.

Minha viagem no tempo não parou por aí (é, a cerveja tava boa). Lembrei que foi num cenário com proporções compatíveis que o saudoso Jaime de Carvalho inovou, ao trocar o paletó pela camisa rubro-negra idêntica às dos jogadores, e ao formar a famosa charanga, em 1942. Papo antigo, de tempos tão remotos que nem existia uma ponte entre o Rio e a Ilha.

Nessas priscas eras, por sinal, um público de 14 mil torcedores, como na estreia de Flamengo x Ponte Preta de 14 de junho de 2017, era um número bastante aceitável. É verdade, irmãos flamengos e irmãs flamengas, nossa torcida já foi bem menor, mas era divertido.

Eram tempos em que a estátua do descobridor português Pedro Álvares Cabral, na Glória, amanhecia decorada por réstias de cebolas a metro, quando o Vasco perdia. Ou que o nosso goleiro Amado Benigno pulava o alambrado para sair na mão com os torcedores do popular São Cristóvão, em 1926, como atesta uma saborosa crônica do sócio Henrique Teixeira de Macedo. Tempos em que a sede do clube, pasmem, tinha somente uma ducha – e de água fria.

(Mario Filho conta na bíblia “Histórias do Flamengo”, página 132, versículo 5, que certa vez Anibal Varges tentou convencer os demais flamengos a investir num chuveiro de água quente. Os remadores então esperaram a noite e depositaram seis pedras gigantes de gelo na caixa d’água. O pobre Anibal, claro, chegou lépido e fagueiro para tomar seu banho matinal. Dizem que deu um berro tão pavoroso que acordou o presidente logo ali no Palácio do Catete. Que delícia eram as tretas do século 20.)

Enfim, trata-se de um campo aconchegante que lembra a infância do Flamengo, e talvez por isso a molecada se sinta tão bem por lá. Basta ver o Vinicius Junior que, com um lençol e uma assistência, fez sua melhor partida pelos profissionais, ajudando o time a quebrar sequência de quatro jogos sem vitórias.

Contudo, por mais que o moleque Vinicius se mostre valioso para a nação rubro-negra, há outros jovens que podem render muito mais ao Flamengo, um montante incalculável, muito além dos parcos 45 milhões de euros.

São os garotos que sentam no banco, mas do nosso lado, na arquibancada. Como um amigo me demonstrou outro dia, por mais rubro-negro que sejamos, nenhum torcedor tem o pulmão e a energia sequer próximos daquela fatia de torcedores dos 15 aos 35 anos, muitos dos quais estudantes ou jovens mal-assalariados sem grana para bater ponto no estádio, ainda mais com os preços cobrados hoje em dia. (Na faixa etária de cima, o cara pode ter o gogó de um barítono ou batucar como um mangueirense, mas normalmente está ocupado com um copo cheio na mão, o que atrapalha tudo.)

Como torcedores, ficamos agora na torcida para que o Flamengo crie logo um setor para os rubro-negros menos abonados, estudantes, biscateiros, assim como anunciou agora o Internacional, que vai credenciá-los a partir de um simples comprovante de renda.

E aí sim, com o estádio repleto e reverberando em cima dos rivais, sentiremos não mais saudade ou nostalgia, mas a alegria de fazermos parte da bonita história do clube, numa Ilha do Urubu do povo, da elite e de todo mundo, como o Flamengo sempre foi e sempre será.

Borges e os rubro-negros eternos

Jorge Luis Borges, escritor argentino.
Charge de Jorge Luis Borges, escritor argentino. Texto e foto: Marcelo Dunlop

Diretor do documentário “Flamengo Paixão” (1980), o cineasta David Neves mantinha uma frase engatilhada sempre que ia a um vernissage ou a uma pré-estreia de conhecidos. Quando o incauto pedia sua opinião sobre o que acabara de ver, David disparava: “Que pedrada!”. E ia embora. Não perdia o amigo nem a piada.

Desde o jogo na Argentina, ando citando o falecido diretor a torto e a direito, sempre que passo na portaria e o Araújo me pergunta se vi o empate no fim de semana, ou se o “Família”, guardador do Baixo Gávea, vem reclamar da última atuação do Flamengo. Se ainda não dá para ver as partidas sem se irritar, melhor nem comentar.

Éramos perto de mil rubro-negros em Buenos Aires, um frio tamanho que o notório torcedor Moraes não tirava as mãos do bolso do bermudão, as canelas resistindo bravamente. Tínhamos tudo para sair do cinzento bairro de Bajo Flores, local do estádio do San Lorenzo, e varar a madrugada na primeira bodega aberta, felizes da vida, entornando vinho às pipas. Em vez disso, enterramos nossas chances na Libertadores num estádio humilde, erguido por singelos 15 milhões de dólares, propinas incluídas provavelmente.

O poeta argentino Jorge Luis Borges certa vez disse: “La derrota tiene una dignidad que la ruidosa victoria no merece”. Não disse isso para mim, admito, e se ele dissesse na madrugada daquele 17 de maio de 2017, provavelmente escutaria um senhor passa-fuera. Borges por certo não viu as últimas derrotas do Flamengo na Taça Libertadores. Derrotas sem dignidade alguma, em que as lições são pouco ou nada aprendidas.

A indignidade era tanta no maldito estádio que, em meio à ruidosa festa dos até então amuados argentinos, um torcedor do San Lorenzo, não muito longe da faixa em homenagem ao Papa Francisco, célebre figura nascida ali perto, decidiu comemorar dançando em nossa direção com sua vasta bunda branca de fora, dançando uma rumba tosca e cruel. Não sei se o Papa abençoaria aquela bunda, não. Para nós, de todo modo, não teve graça.

Outro dia um pequeno clube da Inglaterra de nome Huddersfield voltou à primeira divisão depois de 45 anos, sem orçamento, craques nem nada. Seu capitão, Tommy Smith, tentou traduzir o sentimento em palavras: “Essa conquista significa o mundo para todos nós. Houve uma conexão impressionante com o time por parte de todos, jogadores, torcedores, diretoria, presidente.” Postados ali naquele frio do cão, sendo xingados enquanto as tropas de choque riam, casais, velhos, crianças, um doido todo endividado que comprou a passagem Rio-Buenos Aires no dia do jogo, nos pareceu que o Flamengo hoje padece de uma grave falta de conexão. Se não entre a torcida e a equipe, ao menos entre a nossa defesa e o ataque.

“Parece-me fácil viver sem ódio, coisa que nunca senti, mas viver sem amor acho impossível”, disse também o sábio Borges, o que talvez explique por que voltaremos às arquibas logo logo (por enquanto tá doendo). Em breve talvez até perdoemos aqueles jogadores e a comissão técnica que nos deixaram para trás na Argentina, encarando aquele frio, e aquele rego branco do vizinho do Papa. Talvez não, dependendo das novas surpresas que aprontem na Sul-Americana e no Brasileiro.

Por enquanto, ainda não tirei da cabeça o mais famoso dos tangos argentinos, que também fala sobre sorte e azar no jogo, e que continuo cantarolando baixinho desde Buenos Aires: “Por uma cabeça / De um nobre potro / Que justo na raia / Afrouxa ao chegar…”. Que pedrada.

Da série viral: “9 verdades e 1 mentira”

1. Walt Disney tinha medo de rato.

2. Já vi o Sérgio Mallandro brigando no meio da avenida Ataulfo de Paiva.

3. Sou primo de um ex-presidente da República.

4. Já fui à casa de Dan Aykroyd.

5. Fui entrevistado uma vez por Glória Maria, num hotel 5 estrelas em Tóquio.

6. Conheço um fera que rasgou um cheque no valor de 2 milhões de dólares.

7. Já me virei para o grande ator brasileiro e soltei: "Porra Mauricio, essa foi de Mattar!"

8. Tenho uma amiga que transava com o Robert DeNiro, a ídola.

9. Possuo 3 mamilos.

10. Mergulhei pelo menos três vezes de roupa na Lagoa Rodrigo de Freitas.

R: A mentirosa é a 9.

Poema para Olívia

Olívia Cavallieri nos braços do papai, Handre.
Olívia Cavallieri nos braços do papai, Handre.

Cheia de fofura e gosma, nasceu Olívia.

Será que um dia vai preferir chuchu ou endívia?

Vai usar jojoba ou produtos Nívea?

Será ateia ou líder de seita na Bolívia?

Será doutora e chamará água sanitária de lixívia?

Perguntas tolas, pois a vida não é uma trívia.

Aproveitemos seu convívio, e seu sorriso que derruba como o Tim Sylvia.

(Quase saiu um "Convívia" como rima, mas na hora H, contive-a.)

Louvemos todos a feliz lascívia

Que nos trouxe Olívia! ❤️❤️❤️

7 histórias nada esportivas que ajudam a explicar o Rio de Janeiro

Por Marcelo Dunlop

Desenho do Café Lamas em caneta bic por Paulo Mariotti.
Desenho em caneta bic por Paulo Mariotti.

 

O Rio de Janeiro não é para principiantes, como disse o sábio. Para ajudar os forasteiros recém-chegados à Rio-2016 a entender o povo da cidade, vão aí sete histórias, vividas em sete bairros, contadas por sete cobrões.

De Jaguar, no Flamengo:

O célebre cartunista estava chupetilhando seu chope no Café Lamas, quando se deu a cena, narrada em sua biografia (o livro é um porre, no ótimo sentido). “Teve aquele lance do Maia, garçom memorável, que pisou numa casca de banana – na parte da frente do Lamas vendiam-se frutas – e caiu estatelado, de pernas para o alto, mas sem derramar um só copo da bandeja. O bar aplaudiu de pé a performance; fui um dos primeiros a puxar as palmas.”

De Verissimo, em Copacabana:

O escritor Luis Fernando Verissimo foi visitar o conterrâneo Mario Quintana, que sempre que vinha de Porto Alegre se hospedava no Hotel Canadá, ali no posto 4, perto da Santa Clara. Ao passar num dos túneis de Copacabana, o poeta disse que a coisa de que mais gostava no Rio de Janeiro era entrar em túnel. Diante da surpresa, arrematou: “É a única maneira de descansar da paisagem.”

De Marcos de Vasconcellos, no Jardim Botânico:

O arquiteto residente no JB tinha um conhecido cujo velho motorista, depois de 20 anos de ótimos serviços prestados, decidiu do nada deixar o emprego. Conta aí, mestre: “Chamava-se João, era um homem grave, de pouquíssimas palavras, só respostas e recados, nunca fez qualquer declaração, deu um palpite, uma confidência, nada. Um dia pediu as contas. O patrão, acostumado com a presença do empregado sintético, mecânico, quis saber o motivo da decisão. Vou para casa, disse ele quase calado. Ao retirar-se, depois de um ligeiro aperto de mão e de recusar proposta de aumento e outras regalias, devolveu as chaves, os documentos do carro e saiu. Quando chegou na porta, antes de abri-la, voltou-se e disse seco:  – Meu nome é César.”

De Nei Lopes, na Freguesia:

Como nasce um samba carioca? Catone da Portela (1930–1999) desfez o insondável mistério, em histórica entrevista a Nei Lopes. O então jovem sanfoneiro de Ouro Preto aprendeu o ofício na escola Vai se Quiser, na Freguesia, num papo com o sambista Ruço.

Catone: – Como é que a gente arruma esse negócio pra fazer samba?
Ruço: – Olha, tens namorada?
Catone: – Não, senhor.
Ruço: – Então tu arrumas uma namorada. Arrumas uma namorada, briga com ela e aí você faz uma música, faz lá ao teu modo, pega essa sanfona aí que você diz que tem jeito e você faz uma música como você brigou com ela, que você está sentindo saudades, não sei o quê.

Catone fez o que o experiente sambista aconselhou: “Arranjei uma tal de Maria, uma crioula que ninguém queria. Era ruinzinha! Aí, eu: como é que vou brigar com a primeira namorada? Arrumei um brigueiro com ela e fui pra casa. Lá eu fiz o meu primeiro samba:

Vai, meu amor que eu não te quero mais
Não, não me sai da lembrança esse maldito dia que tu me deixou
Perdão você não terás
Tens um coração de pedra…

Coitada da Maria.

De Eduardo Galeano, na Vila Isabel:

O uruguaio recordou, em seu glorioso livro “Os filhos dos dias”, a clássica história de Noel Rosa flagrado num de seus bares favoritos “na noturna hora das dez da manhã”. “Noel cantarolava uma canção recém-parida. Na mesa havia duas garrafas. Uma de cerveja e outra de cachaça. O amigo sabia que a tuberculose estava matando Noel Rosa. Noel adivinhou a preocupação em seu rosto, e sentiu-se obrigado a dar uma lição sobre as propriedades nutritivas da cerveja. Apontando a garrafa, sentenciou:
– Isso aqui alimenta mais que um prato de boa comida.
O amigo, não muito convencido, apontou a garrafa de aguardente:
– E isso aqui?
E Noel explicou:
– É que não tem a menor graça comer sem ter uma coisinha para acompanhar.”

De Cláudio Manoel, no Maracanã:

O humorista ia ao estádio desde pequeno com o coleguinha Bussunda. “Tem uma história curiosa de um cara que a gente chamava de Seu Suborno. Era o suborno mais indigno da história. A gente comprava ingresso de geral e no intervalo tinha uma passagem para a arquibancada. A gente entrava na geral porque não tinha dinheiro, e então juntava umas moedas, e dava para o cara abrir uma passagem. O cara era subornado por, sei lá, três reais! A soma das moedas de todo mundo certamente não dava cinco! Ele ficava malocado para não dar bandeira. Quando o cara não aparecia a gente metia a cara na grade e ficava gritando: ‘Ô seu Suborno! Seu Subornôoo…’”.

De Mario Prata, no Leblon:

Saideira, outra de bar. Mario Prata, Eric Nepomuceno e um certo Francisco Buarque de Hollanda bebiam no Final do Leblon, idos de 1972. Os três conversavam sobre escrever um musical para o teatro, mas o Prata disse que só faria o roteiro, pois tinha ouvido cego. Chico Buarque duvidou. Mario dizia que desafinava até com “Parabéns para você”. Impossível, teimava Chico. E pediu para ouvir. Olhos nos olhos, Mario Prata então limpou a garganta e mandou ver, o compositor atento aos graves e agudos. Até que...
“Cantei a música toda, inclusive a segunda parte que a minha memória foi buscar não sei onde. O bar foi ficando em silêncio sem que a gente percebesse. Quando terminei, umas 30 pessoas se levantaram e aplaudiram. Não a minha voz, mas o Chico que, para eles, aniversariava. Alguns, menos tímidos, foram até a mesa e o cumprimentaram com abraços. Teve uma menina que deu um boné para ele. O dono do bar, o seu Manuel, disse que a rodada era por conta da casa.”
Fim da história: apareceu um bolo, velinhas, a rua quase fechou e a festa varou a noite – com o amigo de Chico desafinando até de madrugada.